Disponível: http://indierider.blogspot.com. Acesso em 26 jun. 2012.
Happiness, EUA, 1998.
Roteiro e Direção: Todd Solondz
Elenco: Jane Adams, Philip Seymour Hoffman, Lara Flynn Boyle, Dylan Baker e Jon Lovitz.
Felicidade é uma comédia com um senso de humor perigosamente
doentio, perturbador, beirando o nonsense. Felizmente, este é o meu tipo
favorito de humor.
Vencedor do Prêmio da Crítica no
Festival de Cannes em 1998, o filme escrito e dirigido por Todd Solondz equilibra
comédia e drama ao acompanhar a vida de várias pessoas comuns (para não dizer medíocres) que buscam a tal felicidade do título. Mas é claro que aos poucos estes personagens se revelam indivíduos profundamente frustrados, complexos e moralmente questionáveis. Basta dizer que o grupo de protagonistas inclui uma assassina, um pedófilo, uma depressiva, um estuprador em potencial e uma escritora frustrada por escrever um livro sobre estupro na infância, mas jamais ter sido estuprada. É óbvio que em algum momento sua vida e a do estuprador irão se cruzar.
Este, aliás, é um dos grandes
méritos da produção, que no melhor estilo de filmes como Short Cuts – Cenas da Vida e Magnólia
narram simultaneamente a rotina de vários personagens de forma eficaz, sem jamais soar confusa. É até bastante fácil identificar a relação entre todos eles
e a forma como suas histórias irão se cruzar. Seria inútil tentar explicar aqui,visto
que a tentativa certamente seria mais complicada do que entender estas relações
assistindo ao filme. Fica evidente que o diretor/roteirista não quis fazer
desta uma tarefa difícil para o espectador, optando por oferecer uma
dificuldade mais cruel ao público: compreender e até mesmo se identificar com
pelo menos uma daquelas pessoas tão infelizes.
Aliás, cruel, impiedoso e
adjetivos do gênero devem encher o cineasta de orgulho, já que ele submete seus
personagens a tantos constrangimentos e humilhações que comovem ao mesmo tempo
em que nos fazem rir. Como na cena inicial, em que testemunhamos um
encontro romântico sem qualquer romantismo, bom senso, dignidade ou amor próprio.
Enfim, um desastre, é claro. É neste cena que conhecemos Joy (olha a ironia no
nome da personagem), ela é a figura central da trama e a atriz que dá vida à
personagem é Jane Adams, que possui um timing cômico invejável. A verdade é que todo
o elenco é impecável, mas Joy me conquistou por ser tão ridiculamente comum,
com suas frustrações amorosas e profissionais. É engraçado observar como suas irmãs
a tratam como uma pobre coitada, quando, na verdade, também não são mulheres
realizadas e tampouco felizes.
O roteiro é recheado de diálogos sinceros
e justamente por isto tão implacáveis e destruidores. Aliás, um dos diálogos
mais chocantes e tristes que já testemunhei em toda minha vida acontece já
perto do fim e envolve um menino e seu pai, numa cena em que presenciamos claramente a destruição
da infância de uma pobre criança.
Ainda da pra acreditar que este
filme é uma comédia? É claro que sim, mas apenas para aqueles que não tem
muita (ou nenhuma) sensibilidade.