11/07/2011

Dom za Vešanje (Time of the Gypsies) – Vida Cigana – 1988 – Dir. Emir Kusturica

Kusturica sem dúvida é possuidor de uma sensibilidade única. As três vezes que assisti este filme chorei por
igual, não só pela trilha belíssima, junto a fotografia melancólica além da direção de arte tão realista da "vida cigana".
Como sempre as questões sociais são pertinentes nos filmes de Emir, e neste não foge a regra. Para meros interessados em ciganos, é um filme que soube mostrar tanto as "bençãos" quanto as "podridões" desta "vida cigana moderna", tornando possível curiosidade numa faca de dois gumes, ou se mergulha mais na história desta cultura para entender o porque dos ciganos serem tão rejeitados pela sociedade, ou se toma asco com grandes chances de se debandar para o lado dos rejeitadores.
O ponto máximo de reflexão, creio eu, é que independente de cultura, etnia, poder sócio econômico, estes fatores não interferem no caráter de jeito algum, pois humano é humano em qualquer lugar. Exemplo espetacular disto é a avó do protagonista do filme, cigana idosa que cuida de um filho louco e dois netos, sendo que a menina é doente e só pode contar com a ajuda de Perhan seu neto que possui poderes telecinéticos. Além desta avó trabalhar é curandeira e não cobra para fazer "milagres", embora pessoas façam questão de lhe retribuir a graça; o que mais zela é pelo bem espiritual do filho e dos netos sempre orgulhando-se de Perhan que é honesto. Mas Perhan não é tão firme quanto sua avó e se "deixa levar" pelo mel que lhe passam nos olhos com riqueza e poder, aceitando o convite de ir a Itália ficar rico, embora seu pensar esteja voltado em beneficiar sua vó, irmã e Azra sua menina amada, corrompe-se e perde a fé em tudo que lhe fora ensinado quanto aos princípios éticos, e aí começa a crueldade do filme, pois isto é suscetível a qualquer ser humano seja ele cigano ou não. Perhan consegue retorna à sua vó, e a mulher amada, só que decepciona-se com esta e "pira" mais ainda em sua conduta. Percebe já meio tarde que fora enganado, e que caíra numa armadilha de ardilosos, exploradores de sonhos e que a Itália não é isto tudo que lhe fizeram pensar.

O roteiro vai fundo na questão do "ser ou não ser?, eis a questão". Admiradores de culturas diversas e pensadores livres, tem aqui um Kusturica cheio de sutilezas a serem captadas!


Rayat Lyrians

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