10/07/2011

Nazarin – 1959 – Dir. Luis Buñuel

Uma obra-prima de Buñuel adaptada de um romance de Benito Perez Galdós! Sátira perfeita a respeito dos princípios religiosos da igreja católica tendo como protagonista a vida do padre Nazarius, que determinado em sua fé segue literalmente os preceitos de Jesus Cristo. Mas veja só a ironia, ele segue os passos de Cristo, e é condenado pela própria igreja que o que faz é uma afronta, é uma vergonha para os princípios cristãos pois não é comportamento de um sacerdote, entre outras palavras, “ser Cristo”. A contradição impera! O filme inteiro é um ponto de interrogação! Pois com certeza encontrar algum padre firme neste propósito é algo totalmente “surreal” independente “dos tempos”. Muitos irão dizer que não há nada de novo e realmente não há, mas a forma como o tema foi abordado, para quem se interessa, com certeza causará revoltas, ainda mais com uma fotografia lindíssima, que consegue transmitir a simplicidade superior do padre ao mesmo que, suas decepções pelos “fracassos”, seu sentir impossibilitado de mudar a realidade dos que cruza no decorrer de seu caminho e mesmo assim segue adiante.

Questionar sobre si, os demais, em que momentos oferecer a outra face é um ato de inteligência ou de tolice, até que ponto vale apena lutar pela vida do corpo, sendo que a alma é imortal, porque há humanos que conseguem ultrapassar a pior de todas as barreiras que é o medo, e a maioria não, por que “morrer vivendo” em busca de algo que não se terá como a tal “segurança”, sendo que esta possui uma única certeza que é a temida incerteza. Estes são pontos gritantes no roteiro. Vale muito a reflexão. O triste é saber que dentro de uns dias estas indagações que tornam a consciência levemente pesada, mas dão esperanças de superação, serão esquecidas de forma “tão natural”, inutilizando mais uma obra-prima cuja função não é só o propagar do pensar, mas como também do agir.

*André Carneiro afirmou em uma entrevista para o jornal folha de londrina em fevereiro de 2008, que devido ao fato do ser humano viver se questionando (para aqueles que se questionam, é claro), o papel fundamental da arte é descobrir quem somos, mas para isto acontecer é preciso que a arte tenha qualidade. Assim sendo, pergunto: o que é qualidade? Pois com tanta arte qualificada, pois se sabe que há, onde está o equívoco? Ou o único equívoco está na desqualificação inócua e em outros casos propositais por parte da grande maioria que aqui habita?

ok, paro por aqui, pois talvez tenha viajado um pouquinho no surrealismo de Buñuel! Haha!

*André Carneiro: escritor brasileiro de ficção científica pioneiro no gênero neste país. Foi condecorado pelo governo francês com a Medalha de Prata da Cidade de Paris e nomeado Membre D'Honneur da Ácademie Ansaldi de Paris, por suas atividades de intercâmbio cultural e cooperação artística. Seu conto "Escuridão" publicado em 12 países, foi negociado por um grande produtor espanhol para ser roteirizado no cinema.


Rayat Lyrians

Nenhum comentário:

Postar um comentário