Sou suspeita para imparcialidade, pois me posiciono como quase que “fãnática” deste clássico que ouço antes de nascer e vi inúmeras vezes representado no Teatro Guaíra de Curitiba, quando criança. Abrilhantava-me os olhos, não conseguia resistir as lágrimas com a morte de Odette o Cisne Branco, embora completamente envolvida por Odile o Cisne Negro e torcendo por ela. (risos)
Creio que tanto John McLaughlin que escreveu e Mark Heyman que re-escreveu este roteiro para o cinema, inspiraram-se na biografia de Tchaikovsky. Embora a história conte que o compositor espelhou-se nos sobrinhos para escrever este ballet; quem leu, estudou um pouco de sua vida, nota que tem coisas muito próximas de suas confusões, inseguranças e de seu elo tão forte e destacado com o feminino. Pode ser que esteja vendo coisas a mais, mas na cena de sexo entre Nina e Lily, vi o próprio Tchaikovsky. Recordou-me a dificuldade que tinha em aceitar-se homossexual, a frustração em ser obrigado a estudar e exercer o direito para se manter entre a “elite” e o envolvimento forçado com mulheres por mera aparência, sendo inegável seu jeito pederasta. Quem sabe em uma análise mais profunda, a morte do Cisne Branco na verdade não seja uma máscara do Negro, quando o compositor decidiu viver de sua música e assumir a tão afina feminilidade. Enquanto vivo, suas obras foram consideradas bregas, sem grande virtuosidade, até mesmo Swan Lake, que por contrato do Teatro Bolshoi para escrevê-la, fora um fracasso, não pelas melodias, mas sim, na infeliz escolha do coreógrafo e dos intérpretes tanto para a dança como para a orquestra. Dois anos após sua morte em 1895 O Lago dos Cisnes passou por uma total reformulação em cenários, figurinos, coreografias, apenas mantendo as músicas originais, obtendo assim, grande êxito em sua re-estréia imortalizando a obra até os dias de hoje. É difícil ao certo saber a exata procedência de inspiração da obra, encontra-se citações de que é baseado em contos de fadas, franceses e alemães. Mas independente disto é uma história que representa bem o romantismo e tem muito de seu autor.
A busca desenfreada pela perfeição em algo, para substituir a imperfeição em outra, talvez seja este “o feitiço”, a ilusão daquilo que não se pode ser, nem ter, ou até pode-se, mesmo que seja passando por cima de si mesmo com a idéia de O Príncipe de Maquiavel que; “os fins justificam os meios”.
Black Swan permite-me arriscar, o que Tchaikovsky pensaria a respeito desta adaptação com a maravilhosa Natalie Portman protagonizando (?). Excelente interpretação é verdade, fiquei feliz com a premiação do Oscar, mas sinceramente, não merecia tanto, pois a quantidade de dubles utilizadas em várias cenas, decaiu com o mérito singular da atriz.
Montagem e fotografia impecáveis, releitura da trilha por Clint Mansell é fabulosa, sim há muitos que discordam, talvez poderia se ter criado algo inspirado, mas que o original emociona, emociona mesmo, principalmente para amantes de música erudita, de ballet e claro; Tchaikovsky.
Embora tenha amado o filme, reconheço o mais pertinente “clichê”, o eterno duelo entre o claro e o escuro inerente a todos os seres humanos, uma vez mais representado numa obra de “ficção”.
Rayat Lyrians
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