04/04/2011

Cisne Negro (Black Swan 2010) – Dir. Darren Aronofsky – Roteiro: John McLaughlin, Re-escrito por: Mark Heyman

Para fãs de ballet, e principalmente da obra de Piotr IIyich Tchaikovsky, Swan Lake em português O Lago dos Cisnes, não tem como dizer se agrada ou desagrada, pois adoradores de Tchaikovsky tem perfis totalmente distintos.

Sou suspeita para imparcialidade, pois me posiciono como quase que “fãnática” deste clássico que ouço antes de nascer e vi inúmeras vezes representado no Teatro Guaíra de Curitiba, quando criança. Abrilhantava-me os olhos, não conseguia resistir as lágrimas com a morte de Odette o Cisne Branco, embora completamente envolvida por Odile o Cisne Negro e torcendo por ela. (risos)

Creio que tanto John McLaughlin que escreveu e Mark Heyman que re-escreveu este roteiro para o cinema, inspiraram-se na biografia de Tchaikovsky. Embora a história conte que o compositor espelhou-se nos sobrinhos para escrever este ballet; quem leu, estudou um pouco de sua vida, nota que tem coisas muito próximas de suas confusões, inseguranças e de seu elo tão forte e destacado com o feminino. Pode ser que esteja vendo coisas a mais, mas na cena de sexo entre Nina e Lily, vi o próprio Tchaikovsky. Recordou-me a dificuldade que tinha em aceitar-se homossexual, a frustração em ser obrigado a estudar e exercer o direito para se manter entre a “elite” e o envolvimento forçado com mulheres por mera aparência, sendo inegável seu jeito pederasta. Quem sabe em uma análise mais profunda, a morte do Cisne Branco na verdade não seja uma máscara do Negro, quando o compositor decidiu viver de sua música e assumir a tão afina feminilidade. Enquanto vivo, suas obras foram consideradas bregas, sem grande virtuosidade, até mesmo Swan Lake, que por contrato do Teatro Bolshoi para escrevê-la, fora um fracasso, não pelas melodias, mas sim, na infeliz escolha do coreógrafo e dos intérpretes tanto para a dança como para a orquestra. Dois anos após sua morte em 1895 O Lago dos Cisnes passou por uma total reformulação em cenários, figurinos, coreografias, apenas mantendo as músicas originais, obtendo assim, grande êxito em sua re-estréia imortalizando a obra até os dias de hoje. É difícil ao certo saber a exata procedência de inspiração da obra, encontra-se citações de que é baseado em contos de fadas, franceses e alemães. Mas independente disto é uma história que representa bem o romantismo e tem muito de seu autor.

A busca desenfreada pela perfeição em algo, para substituir a imperfeição em outra, talvez seja este “o feitiço”, a ilusão daquilo que não se pode ser, nem ter, ou até pode-se, mesmo que seja passando por cima de si mesmo com a idéia de O Príncipe de Maquiavel que; “os fins justificam os meios”.

Black Swan permite-me arriscar, o que Tchaikovsky pensaria a respeito desta adaptação com a maravilhosa Natalie Portman protagonizando (?). Excelente interpretação é verdade, fiquei feliz com a premiação do Oscar, mas sinceramente, não merecia tanto, pois a quantidade de dubles utilizadas em várias cenas, decaiu com o mérito singular da atriz.

Montagem e fotografia impecáveis, releitura da trilha por Clint Mansell é fabulosa, sim há muitos que discordam, talvez poderia se ter criado algo inspirado, mas que o original emociona, emociona mesmo, principalmente para amantes de música erudita, de ballet e claro; Tchaikovsky.

Embora tenha amado o filme, reconheço o mais pertinente “clichê”, o eterno duelo entre o claro e o escuro inerente a todos os seres humanos, uma vez mais representado numa obra de “ficção”.

Rayat Lyrians

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