Reduzindo um pouco a metragem citada acima, temos o maior tour de force francês ao qual já fui apresentado: o minimalista Jeanne Dielman, exercício de paciência e calmaria da belga Chantal Akerman. Durante quase três horas e meia acompanhamos o dia-a-dia de Jeanne Dielman, dona de casa que passa praticamente seu dia arrumando a casa, preparando as refeições de seu filho único, tomando longos banhos e, às vezes, saindo para fazer compras. Atrás desta vida monótona, existe uma mulher que para sustentar seu “luxo” e seu filho se prostitui no seu próprio apartamento com a mais variada espécie de velhos solteirões de Bruxelas. E o filme é praticamente uma repetição de tudo mencionado acima durante toda sua metragem.
O que torna Jeanne Dielman especial é o tratamento que Akerman dá a sua protagonista, que dentro dos planos longos de atividade caseira mostra uma mulher que esconde com todas suas forças sua fraqueza, sendo seu conformismo um casulo para proteger a ela própria e aos outros de suas frustrações internas, liberada apenas ao fim do filme.E ninguém seria mais perfeito para interpretar Jeanne do que a diva francesa (pelo menos ao meu ver) Delphine Seyrig, que se entrega totalmente a uma personagem sem nenhuma perspectiva para sua vida.
Por mais cansativo que este filme seja (e infelizmente devo concordar com isso), é impossível descartá-lo de sua importância para a noção de um cinema no qual os míseros detalhes constituem toda a sua trama.
Robson Martins.
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