02/04/2011

Mondo Cane – 1962 – Gualtiero Jacopetti, Paolo Cavara e Franco Prosperi

Para quem já teve estômago de assistir “obras primas” como Faces da Morte, Autópsia e outros que mostram de forma nua e crua a morte e outras catástrofes jamais imaginou que todos eles derivam de um documentário de extrema importância para a história do cinema.

O documentário no qual eu falo é o perturbador (ou perturbado) Mondo Cane, realizado pelos italianos Gualtiero Jacopetti, Paolo Cavara e Franco Prosperi, filmado em várias regiões do globo terrestre com o simples objetivo de mostrar as coisas mais absurdas que ocorrem neste mundinho de Deus. O que temos, por fim, são registros antropológicos (e muitos deles duvidosos) sobre a natureza humana, colocando em extremos a sociedade nativa e a civilização, porém aproximando-os nos atos de ignorância no qual cada sociedade é fundamentada.

O Mundo Cão do titulo se refere a tudo na face do globo: aos humanos (com hábitos esquisitos como a caça ao marido dos aborígenes ou a construção de um cemitério para cachorros), aos animais (como os peixes que após as bombas atômicas começaram a subir em árvores e as tartarugas que não reconhecem o mar) e até na arte (o que falar dos azuis de Yves Klein?). Porém o Mundo Cão se explicita ainda mais nos atos de crueldade dos seus envolvidos, como a vingança dos nativos aos tubarões, forçando-os a comer ouriços venenosos ou a cerimônia de decapitação de touros em honra à Coroa Britânica (definitivamente, cenas que me fizeram fechar os olhos).

A elaboração do filme através de esquetes desconexas amarradas por uma mínima narrativa cômica, que reveza cenas sutis e de extrema violência, foi o pioneiro para criar o que hoje conhecemos por shockmentaries, documentários que tem por objetivo mostrar a crueza das sociedades humanas, nem que necessite manipular totalmente a sua narrativa e seus registros para transformar heróis em vilões.

O maior pecado do filme é esta construção um pouco xenófoba que se segue durante as suas duas horas: os alemães são apresentados como bêbados, os aborígenes como seres descartados da sociedade, os australianos como estúpidos (com um método de resgate marítimo ridículo), e os chineses como porcos que comem de tudo.

Um documentário único, porém nem um pouco indicado a pessoas sensíveis e apaixonadas por animais. Sem dúvida, é um grande filme no qual me arrependo de ter visto.

Robson Martins.

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