


Blog de crítica de cinema dos alunos do Curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo do IFPR Curitiba
Produção de baixo orçamento, deve ser um filme aclamado por umas 10 pessoas ao redor do mundo.
Na trama, um garoto feio e desajeitado é constantemente atormentado pelos garotos populares e pelas bonitas garotas do colégio. Certo dia uma brincadeira acaba mal, e ele cai dentro de um barril de lixo tóxico. Ele retorna deformado, porém maior e mais forte, e decide combater o crime. Arranja namorada, vira herói, mas logo ele começa a perder o controle de seus poderes.
Como pode a delicadeza, sutileza estarem diretamente ligadas na mesma proporção com atos e pensamentos hediondos em mundos paralelos tão distintos? Será este o tal equilíbrio tão procurado por todos? Meio que passa por uma frase cantada em uma música da banda finlandesa Nightwish “Wish I Had An Angel” que diz mais ou menos assim: “... as obras mais belas vem dos pensamentos mais sombrios...”.
Direção de fotografia belíssima de Guilhermo Navarro, direção de arte mais perfeita e bela ainda, além da trilha estupenda de Javier Navarrete que caminha em total plenitude com a história, faz mergulhar nos dois mundos altamente complexos do roteiro. O Mundo particular de Ofélia, menina de 10 anos que foi morar em Navarro (Espanha) com sua mãe, batendo de frente com o mundo do Capitão Vidal, padrasto facista completo “puxa-saco” da ditadura de Franco. A narrativa se desenrola em 1944 após cinco anos do término da Guerra Civil Espanhola, mas com grupos ainda resistentes, os tais “rebeldes” comunistas que seguem na luta contra o ditador Franco, sendo função do Capitão Vidal, combatê-los. O horror da ditadura e seus “pau-mandados” é trabalhado de forma mínima, mas muito intensa intercalado ao mundo fantástico de Ofélia, que descobre um labirinto e conhece Pan que lhe “impõe” 3 desafios que devem ser vencidos antes da lua cheia. Pois acredita firmemente, que Ofélia é a princesa desaparecida do mundo das fadas e que está prestes a voltar. As batalhas íntimas da menina de 10 anos são de uma delicadeza mórbida, morbidez que resulta de maus-tratos recebidos do padrasto, falta de melhor orientação por parte de sua mãe ignorante que está grávida e doente, somado aos desafios estabelecidos por Pan. Já a delicadeza resulta do ponto de vista dela como criança, de que forma interpreta o mundo, “expressa” sua sabedoria nata ao jeitinho infantil.
Analisando por um eixo mais extenso, associo Ofélia um pouco ao Peter Pan, criança que deseja ser eternamente criança, quando se depara com os primeiros obstáculos, sofrimentos, decepções e imediatamente tem gana de voltar atrás e esquecer que algum dia passou por isto, nem que para isso tenha que enfrentá-los para se livrar, o que é bem contraditório.
Com a morte de sua mãe, devido ao nascimento de seu irmão, a menina encontra-se completamente só, mas como diz o próprio filme, “a inocência tem um poder que o mal nem imagina”, ela faz amizade com Mercedes, uma “rebelde” infiltrada disfarçada de empregada na casa que a protege de seu padrasto.
O roteiro é cheio de detalhes referente a personalidade dos personagens, a obsessão pelo controle é visível no habito doentio do Capitão Vidal em ficar a todo instante olhando o relógio de bolso e tomar nota escrita, de tudo que acontece, revelando um alto grau de vaidade dentre inúmeras manifestações da mesma.
Caramba! Posso ficar aqui horas falando a respeito desta maravilhosa história e todas suas sutilezas mascaradas, e críticas escrachadas, principalmente quase ao fim do filme, na hora do sacrifício de Ofélia para salvar seu irmão, será que ela morreu? Ela cresceu? Qual foi a “metamorfose”? Guilhermo Del Toro conseguiu dar um dinamismo único ao filme, uma paradoxal “simbiose” roteiristica. Olhos desatentos discordarão totalmente, dirão que de dinamismo não tem nada, pois é um filme parado, e cansativo, por isto afirmo, olhos desatentos.
Quem gosta de seguir pistas, desvendar mistérios no quesito “universo paralelo humano” a caráter de “fantasia”, O Labirinto do Fauno está entre uma das melhores escolhas!
Rayat Lyrians
O mundo dos anos 70 iniciou dividido entre dois eixos: o mundo dito capitalista democrático, dominado pela influência norte-americana, e o mundo socialista/comunista, liderado pelos soviéticos, num evento histórico já consagrado como a Guerra Fria. Dentro deste cenário de conflito entre duas políticas extremamente distintas, cada nação defendia o que acreditava ser o correto para o mundo. Aproveitando este cenário, eis que surge o iugoslavo Dusan Makavejev mostrando seu ponto de vista de uma forma extremamente peculiar: com um documentário encenado enganador (ou também conhecido por mockumentary) sobre o “principio número
Esta é a essência de W. R.- Mistérios do Organismo, que a partir da premissa de explorar o ideal da Revolução sexual foca na figura de Wilhelm Reich (o W.R. do título), psiquiatra famoso por criar teorias sobre liberação da energia sexual (a Orgonomia) durante o conturbado período da Segunda Guerra Mundial, relacionando a sexualidade diretamente com a espiritualidade, conflitando com os tabus do mundo capitalista, porém sendo adotado pelo pensamento comunista. Em paralelo com entrevistas que elevam a importância da pessoa que Reich foi para a sexualidade humana (dividindo a cena com Freud, seu pai acadêmico), são intercaladas cenas de exercícios “padrões” para a energização espiritual através do sexo, em paralelo com a história de Milena, uma jovem de coração puramente comunista que busca divulgar os ideais reichianos para todos seus “camaradas”, ao mesmo tempo que se apaixona por um patinador encantado pela ideologia libertária, porém mentalmente instável.
O grande problema está na compreensão de W.R.: é um filme de protesto ou simplesmente descreve a história? É um documentário ou uma comédia de valores? É fiel a realidade? A única certeza que tenho é que se trata de um filme estranho sobre uma filosofia que não deve ser ignorada mas não deve ser praticada ao pé da letra (como exposto num filme de 2004 chamado The Raspberry Reich, intragável para qualquer cinéfilo normal). W.R. é o tipo de filme que é necessário ver mais de uma vez para se compreender seu real sentido e a sua mensagem, se é que há alguma no meio da confusão proposta por Makavejev.
Robson Martins.
Fahrenheit 451 é com certeza um dos filmes que mais gosto e não apenas pelo roteiro que é genial, mas também conta com trilha e fotografia de dar inveja. Imagine se hoje os bombeiros não fossem mais responsáveis por apagar incêndios e sim incendiar livros. Está aí o maior absurdo que no fim das contas não parece tão absurdo.
Pois é, livros são proibidos. O argumento é que eles tornam as pessoas infelizes e assim é banido da sociedade. Acontece que sempre haverá resistência, essa composta por amantes de livros. Essas pessoas escondem qualquer tipo de livro, nos mais distintos esconderijos, para os quais, os bombeiros são treinados para encontrar e queimar.
Nosso protagonista é Montag. Um bombeiro que está prestes a ganhar uma promoção no quartel. Ele é casado com uma moça alienada pela TV e pela vida margarina. No caminho do trabalho, Montag conhece uma professora que desperta nele a curiosidade de ler um livro.
Fahrenheit 451 é além de título do filme, a temperatura que o papel queima. E em um desses incêndios ele guarda um dos livros. Após ler vários livros, seu casamento desmorona e ele começa a olhar para o mundo de outra forma. Assim é denunciado ao quartel pela mulher. Foge então para uma aldeia escondida de pessoas que são livros, elas decoram seu livro predileto e guardam por toda sua vida, repassando seu conteúdo.
A comédia não precisa de falas. Um grande exemplo e ídolo é Jacques Tati. Mas venho falar do filme Aaltra de Gustave de Kervern e Benoît Delépine. Com falas mínimas e em preto e branco, esse road-movie sobre cadeira de rodas me tirou as mais inesperadas gargalhadas.
Tudo resulta do ódio entre dois vizinhos, Ben e Gus. Eles moram em uma área rural, mas Ben trabalha na cidade e Gus é agricultor. Um dia Ben se atrasa para o trabalho por culpa do vizinho, assim desiste de ir e volta para casa. No lar encontra sua mulher que está grávida, transando com outro homem. Bem sai enfurecido atrás de Gus, pois acredita que a culpa é dele. No confronto acontece um incidente e os dois perdem os movimentos das pernas.
Aqui começa o desenvolvimento do road-movie Aaltra, após saírem do hospital partem para uma viajem hilária até a empresa Aaltra, marca do trator que causou o acidente. Gus motivado pela indenização e Ben por sua paixão por motocross.
Mais um na querida lista de humor negro. Eles se aproveitam das regalias e caridades para com deficientes, desde a roubar uma cadeira elétrica de velhinhos à alugar as vagas de estacionamento para deficientes. Assim o ódio entre eles é deixado de lado para se unirem e aproveitarem de tudo e de todos.
Aaltra é hilário, seu desfecho mais ainda. Pois o filme mostra que deficientes também são pessoas capaz de tudo e não coitados.
Aconteceu perto da sua casa, finalmente com um título no Brasil. Este falso-documentário transborda humor negro. Realizado em 1992 por Rémy Belvaux, André Bonzel e Benoît Poelvoorde, não apenas na direção, mas em várias funções centrais. Poelvoorde também atua, encarnando Ben, nosso protagonista.
Tudo gira em torno de Ben, que é um serial killer. A câmera registra seu dia a dia, assassinatos, sua família e amigos, como afundar corpos e as opiniões de Ben sobre derivados temas um deles: a estética da cidade.
Nosso protagonista mata apenas pessoas miseráveis e velhas. Chega a dizer que os velhos são os mais mesquinhos e assim sempre têm dinheiro. Ele até frisa no filme que, "se você mata uma baleia, será perseguido pelos ecólogos, pelo Greenpeace...mas se você fatura um cardume de sardinhas, garanto, eles te ajudam a carregá-las."
Com todo cinismo e ego demais, as coisas acabam saindo fora do controle. A equipe de filmagem tem parte dos integrantes morta. Ben acaba matando sem querer um mafioso e assim seus amigos e familiares começam a ser perseguidos enquanto ele está na cadeia.
Aconteceu perto da sua casa é fascinante, para os adeptos do humor negro e cenas fortes não há melhor recomendação. Insano.
El Método (2005) uma produção entre Argentina, Espanha e Itália, dirigida pelo argentino Marcelo Piñeyro tendo também seu envolvimento no roteiro com Mateo Gil, adaptado da peça teatral de quatro atos do catalão Jordi Galcerán “El Método Ghrönholm” (2003), que por sua vez deve ter se inspirado em Bertolt Brecht quando este disse: “... sábios alemães tentaram-se a abdicar de seu saber em mãos de chefes nazistas...” casa perfeitamente com este filme que narra a trajetória de sete candidatos que disputam uma vaga de emprego. Transpondo a frase de Brecht, podemos dizer que é visível no roteiro, pessoas que omitem parte de seu potencial por medo do “insucesso” em mãos de chefes que talvez saibam menos que os próprios interessados na vaga, ao mesmo que sofrem certa “dislexia” quanto a ética em relação aos concorrentes. Sim, humilhações em larga escala!
Traduzido para o português como “O Que Você Faria?” vencedor do prêmio Goya de melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante de 2006, El Método retrata a crueldade sutil e escancarada dos processos de seleção com dinâmicas de grupos um tanto quanto bizarras, que muitas empresas aplicam, neste caso, com o nome fictício de “grönholm”. O desespero da empresa por ter o melhor profissional faz com que esta, direcione as respostas dos candidatos e aquele que melhor souber interpretá-la será contratado. Os candidatos são trancafiados em uma sala, onde terão que passar por inúmeras provas, e uma delas é descobrir um infiltrado da empresa. Ou seja, um pé em falso, e seu emprego do sonhos, já era. Além de estarem sendo “big brotheados” o tempo todo, é quase que 1984 empresarial; quem leu esta obra de George Orwell, entenderá o que digo. A história toda praticamente se passa dentro desta sala na capital espanhola, Madrid.
Diálogos ricos em conflitos, indagações, que geram situações bem delicadas, e inúmeras perguntas principalmente sobre ética. Até que ponto uma pessoa é capaz de ir para ser contratada? Até que ponto uma empresa pode tocar um terror psicológico em seus candidatos? Que tipo de perfeição exigida é esta, a ponto de tornar um ser humano robô? Sim, demonstra uma frieza robótica, pois no mesmo dia as ruas de Madrid estão tomadas por manifestos violentos devido a uma reunião do G8, que não impede da seleção acontecer.
Bom, quanto a montagem, atuação do elenco, não há do que reclamar. Num roteiro em que quase não há movimentação de personagens, e mudanças radicais de locação, tem que se ter um excelente diretor de cena para conseguir prender a atenção do público com os nuances, expressões milimétricas por assim dizer, do atores. E isto Marcelo Piñeyro conseguiu perfeitamente bem. Já a trilha sonora, posso dizer que não me chamou a atenção tanto assim, até por que tem muito pouco destaque, mas nota-se Tom Jobim de fundo em uma das cenas inciais.
Simplesmente finalizo que, é estupendo este filme!
Rayat Lyrians
As Brumas de Avalon, bestseller de 1979, retrata em quatro livros a lendária história do Rei Arthur, de forma distinta, revela um homem frágil e dependente indiretamente direta da rica e misteriosa magia da ilha sagrada de Avalon com seus magos sacerdotes e sacerdotisas, druidas e druidesas, para o vulgo, bruxos e bruxas, na verdade a história é mais de Avalon que qualquer outro personagem. Esta obra-prima, teve sua adaptação para o cinema lançada em 2001. Sim, batemos naquela tecla que, os livros são muito melhores que o filme.
Nota-se que Gavin Scott, que roteirizou a obra, tentou aproveitar ao máximo o que haveria de melhor no livro com intuito de um filme comercial sobre magia e com máscara de quase histórico. É plenamente entendível a dificuldade de se fazer uma adaptação de um tema complexo que trata a obra, com extermínio de culturas, divergências religiosas acentuadíssimas, a inerente ambição do homem em querer ter o poder para manipular a todos principalmente por meio de doutrinas espirituais, como já ressaltada. Pena isto não ser tão destacado no filme. Embora se tenha 180 minutos de filme, como disse, a intenção é comercial, então se apela para os atos de sexo e guerra (principalmente).
A Fotografia do filme fica a desejar, alguns efeitos especiais também, tem-se inúmeros erros de continuidade. Resumindo é um filme tosco. Mas mesmo assim consegue encantar, para os amantes da temática, sendo o paganismo celta retratado. O Roteiro poderia ter sido bem melhor desenvolvido, destacando a importância do Merlin da Bretanha, seus ensinamentos e conflitos com Viviane a Grã-Sacerdotisa de Avalon. Avalon é o mistério, Avalon é a grande pergunta do por que e como o povo que habita a ilha sagrada é tão pacífico e possui tanta sabedoria, Avalon é a protagonista da história, mas certeza que conveniências prevaleceram, talvez para não chocar e entrar para o “index” da igreja católica, mesmo com a extinção do mesmo.
As Brumas de Avalon se salva pela ótima direção de atores, o diretor Uli Edel caprichou na escolha, e realmente não teria pessoa melhor que Angelica Huston para interpretar Viviane a Senhora do Lago, Juliane Marguiles como Morgana, possuidora de uma beleza exótica e Hans Matheson como Mordred filho de Morgana e Morgause irmã de Viviane interpretada por Joan Allen, quarteto de atores impecáveis. A trilha merece destaque para o compositor haitiano Lee Holdridge e a canadense Loreena Mckennitt que deram uma riqueza a algumas cenas quase que divinas! Embora tosco, é um ótimo entretenimento e que contém relevantes surpresas completamente modificadas do livro.