27/05/2011

Bin-Jip - Kim Ki-Duk - 2004


 SPOILER! SPOILER! SPOILER!



Para quem já viu o clássico Love Story, sabe que, como disse Jennifer Cavalleri,  “amar é nunca ter que pedir desculpas”: este é o clássico amor hollywoodiano, cheio de carícias e longas conversas entre os apaixonados. Porém, existe aquele tipo de amor que é expresso pelo toque, pelo olhar, ignorando qualquer forma de comunicação verbal para existir, se tornando mais belo que o amor meloso de Arthur Hiller citado acima: este sim é o amor poético de Casa Vazia (ou Ferro 3, pra quem preferir), filme sul-coreano vencedor do prêmio FIPRESCI do festival de Veneza de 2004.
O filme de Kim Ki-Duk é sobre um amor impossível que ignora todas as regras para se tornar possível; é a história da princesa guardada pelo dragão cruel, onde o herói vem resgatá-la e oferece-la o seu “felizes para sempre”; é sobre duas almas independentes que acidentalmente se encontram; bem, é sobre o AMOR. O filme inicia seguindo a rotina de Tae-suk, jovem individualizado que invade casas de famílias em férias para passar a noite. Em troca da “hospitalidade”, ele realiza serviços caseiros, como arrumar objetos quebrados ou lavar a roupa  ou até velar um corpo abandonado. Mas, ao invadir uma dessas casas, descobre que ela não está inabitada: lá vive a solitária Sun-hwa, “presa” enquanto seu marido, mais velho que ela, viaja a negócios. O que une Tae-suk com Sun-hwa é o silêncio que ronda as suas vidas. Unidos, continuam a realizar as costumeiras invasões, ao mesmo tempo que Min-gyu, marido da jovem, move meio mundo para encontrá-la.
Durante praticamente uma hora de filme não temos falas: os únicos sons audíveis são os ambientes visitados pela dupla e murmurinhos de personagens secundários. Quando as falas surgem, são para acabar com as esperanças da dupla principal: o marido encontra a garota, enquanto Tae-suk é preso acusado de “invasão de domicílio”; ela volta ao seu mundo de solidão, apenas lembrando de reflexos de seu passado como modelo, e ele praticamente perde os sentidos dentro da prisão. Neste ponto, Kim passa a noção de que o filme é sobre um amor impossível que não tem solução, mas ao retornar ao terceiro ato da trama, novamente preenchido pelo silêncio pacificador, ele permite que o impossível passe a ser a única realidade: Na cadeia, Tae-suk aprende como se tornar “invívisel” a todos, fugindo e indo ao encontro de Sun-hwa, que se conforma com a situação de ter um marido e um amante invisivel (que se torna visível apenas aos olhos dela).
Da mesma forma que acontece com o belíssimo Primavera, Verão, Outono, Inverno… E Primavera, Kim ignora qualquer padrão estético visual e de narrativa para conseguir o resultado esperado. Por fim, temos um filme demasiado estranho mas completamente humanizado por personagens tão simplórios que da mesma forma que se apaixonam, conquistam o público. Para quem preferir, também é um filme sobre a timidez superando os obstáculos da vida; mas, a grosso modo, é simplesmente poesia visual da maispura qualidade.
- Robson Martins.

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