=( obs: postagem com conteúdo spoiler. Se você não viu o filme e não quer saber o final, assista e depois leia o textinho =)
Aproveitando a oportunidade de ter mais visibilidade pra esfacelar um super blockbuster como Avatar, aqui estou eu a escrever sobre O Fenômeno - que não é nem o Ronaldo, e nem o filme do Travolta, mas sim a incrível tecnologia que até agora só esse filme soube mesmo usar: o 3D de verdade, conseguindo assim a proeza de colocar a platéia em absoluto transe hipnótico por incríveis quase três horas.
Em transe hipnótico? Por quê? Ora, convenhamos: seria praticamente impossível a um bom cinéfilo aguentar um filme com roteiro, diálogos e trilha sonora tão insossos e clichês por tanto tempo sem querer sair da sala e pedir o dinheiro de volta, não fosse pela fenomenal tecnologia empregada nessa obra. Avatar é por excelência um filme de pós-produção. Isso, e as câmeras bi-oculares de James Cameron, responsáveis pelo efeito 3D.
Em termos de roteiro, é um Dança com Lobos ao estilo Matrix - como diria Pablo Villaça, que infelizmente também foi hipnotizado pelo alucinógeno das flores fosforescentes - contando a história de um veterano de guerra que vai ao planeta Pandora e se infiltra entre os nativos, vestindo uma carcaça transgênica de Na'Vi, na intenção de estudá-los e descobrir seus pontos fracos para facilitar o ataque do general malvadão com a cicatriz à la Scar. Entretanto, como era de se esperar, nosso bondoso herói se apaixona pelo estilo de vida dos Na'Vi - e também pela mocinha azul que de tanto odiá-lo vira professora dele e se apaixona também - e resolve se rebelar contra o general malvadão cicatrizado.
Isso clareou o conceito de clichê? Avatar tem a fórmula completa do clichê que o povo não cansa de assistir: um herói que muda de lado, uma mocinha forte e sensual, uma nação pura correndo o risco de ser extinto, uma lenda de um herói, uma fera feroz (puts redundância) que só é domada pelo mais bravo e lendário guerreiro, um bandido com uma marca no rosto, um covarde ganancioso em busca dos tesouros dos nativos (isso não lembrou Pocahontas também?), uma equipe de nerds ambientalistas que são zoados pelos burros militares, mas que ajudam o mocinho provando que inteligência supera força (ninguém nunca viu isso, né?), uma guerra épica antecedida pela reunião de povos de todo o planeta Pandora, preparados para ajudar nossos heróis, e uma reviravolta espetacular e sobrenatural no terceiro ato. Isso sem falar do básico momento de desespero, quando a coisa fica preta pros azuizinhos e a culpa vai pro herói: "nós confiamos em você"," você nos traiu", "você é um deles" e poraí vai. E se alguém for falar da questão ecológica desse filme, basta lembrar da animação Wall-E e de outras dezenas de produções nas últimas décadas que trataram da questão de uma forma infinitamente mais criativa do que a obra em questão.
José Wilker acertou na mosca quando disse que Avatar "engana bem", pois é bem isso que o filme traz. Entretanto, não se pode tirar totalmente os méritos de James Cameron, já que ele passou mais de uma década em pesquisa e desenvolvimento de técnicas para que o filme se tornasse o que de fato é: a maior bilheteria das últimas décadas.
Enfim, após ver esse filme ser descascado, moído, triturado e pisoteado apenas nos aspectos cinematográficos, espero que você consiga ter uma visão um pouco mais exigente da próxima vez que for ao cinema para ver um filme rodado em 3D real, porque além da dor de cabeça que causa em alguns, essa tecnologia é um alucinógeno poderoso pra atrair ma$$as e espantar análises críticas.
Lin Marx
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