Há filmes nos quais o espectador é convidado a sentir todas as emoções de seus protagonistas, sejam estas boas ou ruins. Porém, em Quem tem medo de Virginia Woolf, é impossível encontrar alguma emoção boa no turbilhão de sentimentos que seus quatro protagonistas lançam o espectador: todos os atos de Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Dennis são decadentes, trazendo à tona a loucura particular de cada um, da mesma forma que esta loucura carrega os seus piores segredos.
Adaptado da peça de sucesso de Edward Albee pelo grande roteirista Ernest Lehman (conhecido pelos roteiros de A Noviça Rebelde e Amor, Sublime Amor), Quem tem Medo... já mostra a natureza de seus personagens logo em sua abertura, quando Martha, interpretada perfeitamente por uma Liz Taylor no auge da carreira, importuna seu marido George (Burton, também esposo de Taylor na vida real) sobre uma frase que ouviu num filme de Bette Davis (referindo-se ao filme Beyond the Forest e a frase “Que pocilga!”). Os exageros morais fazem parte dos personagens, mais explicitados com a presença dos elementos restantes: O biólogo (ou matemático, se a palavra de Martha foi mais importante) Nick e sua esposa Honey. À primeira vista, Nick e Honey são o casal perfeito perante os velhos George e Martha; mas aos poucos vemos a realidade (claro, com o auxílio de muitos copos de whiskeys e brandies) e descobrimos que todos, sejam jovens ou velhos, são almas recheadas de problemas e preocupações: Martha é manipuladora e impulsiva; George é extremamente submisso; Nick é movido a interesses; e Honey não possui força de vontade.
Essas quatro personalidades unidas conseguem criar uma noite de horror, pior do que as babaquices explicitas de Sam Raimi em terrores como A Morte do Demônio: não há sangue, não há violência (não em excesso), mas a decadência moral orquestrada por um iniciante Mike Nichols se torna insuportável em certos momentos, “manipulados” por Martha e seus joguinhos (entre eles, o mais divertido: Humilhem o anfitrião).
Deixando de lado a pesada narrativa do filme, Quem tem Medo... possui um elenco invejável a qualquer outra produção hollywoodiana dos dias de hoje: Taylor mereceu sem dúvidas seu segundo Oscar, da mesma forma que Dennis ganhou sua primeira estatueta interpretando a frágil Honey, enquanto Burton e Segal estão perfeitos como opostos de uma mesma espécie de homem. Como em Persona, de Ingmar Bergman (outro filme no qual fiz questão de comentar), Quem tem Medo... tenta mostrar a natureza humana da pior forma possível. E consegue.
Robson Martins.
Fonte das imagens: http://whatthemovie.com/movie/who_s_afraid_of_virginia_woolf
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