15/03/2011

Trilha Minimalista – Philip Glass – As Horas – Dir. Stephen Daldry - 2002

As Horas, que fico extasiando-me com a trilha do filme As Horas, não sinto As Horas passarem. É um efeito quântico, não há tempo e tão pouco há espaço, ou melhor há espaços, como se fossem espelhos de lugares, imagens que refletem, sensações, emoções, desejos que perdem-se num encontro ao ápice de uma melancolia minimalista infantil. Sendo tudo tão fácil de explicar, se resolver, na incansável repetição de tentativas em notas, transcritas em tempos, compassos, toques suaves e precisos, tons distintos da própria melodia. Ora alegre e ingênuo, ora triste e repleto de culpas, ora irônico.

Philip Glass, compositor da trilha do filme em pauta, fora muito criticado, ao mesmo que endeusado, assim como Yann Tiersen compositor da trilha – O Fabuloso Destino de Amèlie Poulin e Michael Nyman com O Piano, devido ao estilo de composição, classificada como minimalista. O gênero é um tanto quanto satirizado por muitos estudiosos da música. Pois baseia-se em repetição de notas contendo dois ou mais temas, além de ser também pura matemática. Considerado assim um estilo mecânico, sem criatividade justamente pelas repetições.

Desculpem meus caros, não sou expert em música, trilhas, mas parto da seguinte premissa: que tudo que provoca alguma espécie de reação espontânea e marcante no expectador que ouve, vê o filme em todas formas possíveis, são trilhas “geniais”, independente de trazerem alegria, esperança, ou até vontade suicida – (o que é péssimo) – cumprem muito bem o seu papel. Há trilhas que salvam filmes e só nos lembramos destes exatamente pelas composições. Alguém já viu O Fantasma do Louvre? Então, esta coisa, é um verdadeiro atentado terrorista ao gênero suspense, pois é assim que se “auto-promove” suspense. É um dos inúmeros exemplos claros em que a trilha salva, talvez dizer que salva, seja um equívoco, mas é o que há de melhor no filme.

No caso de As Horas já expressei minha opinião na introdução deste texto. Tanto em roteiro, direção e composição sonora é um casamento perfeito de histórias, imagens e sons minimalistas. Talvez o minimalismo seja uma tradução de todas as vezes que repetimos incansavelmente, erros e acertos de forma inconsciente, numa continuidade de repetições em busca de novos temas, e assim, segue o ciclo de forma mais encarável, num sentir mais aguçado às ondas sonoras que, podem antecipar acontecimentos, complementar, finalizar ou mesmo confundir, impondo-nos de forma tão sutil, que iremos pensar num desfeche, que as vezes, nem tenha.


Rayat Lyrians

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