Em 2004 nos deparamos com o documentário Estamira de Marcos Prado. Este filme que trouxe uma realidade ignorada por muitos foi rodado no Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina, localizado na cidade de Duque de Caxias -RJ. Em 2006 veio a decisão que este aterro seria desativado em 2007, qual o que não ocorreu, levando à saturação do aterro e contando agora em 2011 com mais uma promessa de desativação em 2012. E desse aterro mais um documentário veio em 2009. Lixo Extraordinário teve que ir além das fronteiras para buscar a dignidade de ser exibido nas salas de cinema nacionais.Uma co-produção entre Brasil e Reino Unido contou com três diretores: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley.
Inicialmente parecia-me que a idéia do documentário era sobre a trajetória do lixo dispensado no aterro até virar matéria prima para o artista plástico Vik Muniz. Foi além.
Em torno de dois anos Muniz acompanhou, a fim de fotografar um grupo de catadores de materiais recicláveis para retratá-los com sua arte. Do convívio nasceu a proximidade de Muniz com os catadores e foi surpreendido pelas histórias de seus personagens e pela dignidade, desespero e sonhos revelados quando instigados a imaginar suas vidas fora daquele aterro. Muniz surpreende-se na proximidade com o líder sindical Sebastião Carlos dos Santos, conhecido como Tião, quando a catador relata ter encontrado em meio ao lixo o livro O Príncipe, de Maquiavel, qual o incentivou o hábito de ler. No suposto lixo, Tião conheceu Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer e vários outros escritores. Ponto chave para dar membros a este maravilhoso trabalho. Lixo Extraordinário traz à tona o imenso problema de classes no Brasil. Onde os catadores mostram que têm mais consciência sócio ambiental do que os moradores de Leblon e Barra. Sem de demagogias, o trabalho que Muniz realizou teve um desdobramento do que a arte é capaz de realizar com pessoas sem perspectivas de vida. Mudanças reais aconteceram com os catadores envolvidos no projeto.
Aclamado pelo público e pela crítica, o documentário recebeu vários títulos em 2010: Melhor Documentário na International Documentary Association, em Los Angeles; Prêmio Especial do Júri, em Paulínia; Melhor Documentário Internacional eleito pelo público e indicado ao Prêmio do Júri no Festival de Sundance, nos Estados Unidos; considerado o Melhor Filme da Mostra Panorama e vencedor do Prêmio Anistia Internacional no Festival de Berlim.
Agora em 2011 veio a Indicação de Lixo Extraordinário ao Oscar de Melhor Documentário, que mesmo não levando esse aclamado prêmio expos o filme no circuito nacional.
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