06/03/2011

Persona - 1966 - Ingmar Bergman

         Apesar da grande admiração que a crítica e o público tem por Persona (lembrando sempre que se trata de um cult), é inevitável dizer que este filme é perturbador, sendo ainda possível ousar comentar que é a obra mais insana do grande mestre Ingmar Bergman (seguido de perto pelo enigmático A Hora do Lobo), que sempre buscou expor, em seus filmes, a real natureza humana, aqui tratada sem a menor delicadeza.
O filme trata do conflito psicológico entre os opostos, entre a luz e as trevas, entre a tranqüilidade e o caos; e este conflito é realizado por duas mulheres, iguais a qualquer outra mulher (pelo menos à primeira vista): a atriz Elisabeth Vogler, que do nada decide abandonar tudo e se dedicar ao silêncio, com exceção nos momentos felizes que exprime todo seu sentimento em um sorriso de aparência forçada, e Irmã Alma, enfermeira designada para tratar do problema de Vogler. Isoladas numa casa de praia por ordem da médica responsável pelo caso, ambas criam extrema afinidade, sendo Vogler a perfeita ouvinte para os receios da pobre Alma, do mesmo modo que Alma serve como alicerce para o silêncio de Elisabet. Porém, após uma carta escrita "ingenuamente" por Vogler, as semelhanças caem e só restam as diferenças e perturbações entre as personagens, justamente no momento no qual segredos mais profundos surgem devido à dependência forçada de uma pela outra.
Mesmo que o foco de Bergman seja a construção dos laços humanos, o que é explicitado em Persona é justamente o contrário: os laços humanos são desfeitos durante todo o filme, seja este dentro de uma relação conjugal ou numa relação maternal (ambos voltados à atriz). Esta destruição dos valores morais e éticos é exposto desde o inicio do filme, a partir do uso de imagens desconexas, como uma representação de Cristo sendo pregado na cruz ou uma simples ereção numa micro-sequência, ou até cenas mais violentas, como um homem pegando fogo ou um cordeiro sendo decapitado. Além do uso agressivo da narrativa para expor o humano, a fotografia de Sven Nykvist reforça a idéia de conflito interno a partir do jogo de luz e sombra, posicionando ambas personagens em sua zona de (des)conforto, como Alma relaxada debaixo do Sol ou Elisabet se encolhendo entre a escuridão de um quarto de hospital, cada mulher no local que criou para si mesma.
Persona é o máximo de Bergman: são emoções explícitas e puras, tratadas de um modo que nem Freud explicaria.
- Robson Martins.

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