25/06/2011

Deep End - Jerzy Skolimowski - 1970


A virgindade é um tema batido em Hollywood, explorada por filmes do gênero “besteirol” como o “clássico” American Pie, e é assim que é visto em Hollywood – da forma mais debochada possível. Porém, há poucos diretores que vêem a perda da virgindade como uma real mudança no caráter do individuo, transformando-o num ser completamente diferente de sua persona natural. Por exemplo, temos a experiência realizada por Louis Malle em seu Pretty Baby, colocando uma novata Brooke Shields (a mesma do insosso The Blue Lagoon) na pele de uma jovem que tem a perda da virgindade como a perda da dignidade.
Contudo, nada é mais delirante e psicótico do que o retrato construído por Jerzy Skolimowski neste filme, seu primeiro em língua inglesa: com Ato Final (título concedido no Brasil), a perda da virgindade representa o ato de corromper uma alma inocente que não tinha intenções maldosas, sendo o ato sexual como um vírus que modifica totalmente o modo de agir, fazendo um jovem tímido de 15 anos se transformar num paranóico mortal.
Susan (interpretada magnificamente por uma jovem Jane Asher, mais conhecida como uma das esposas de Paul McCartney) é veterana na casa de banho na qual Mike (John Moulder-Brown) consegue o primeiro emprego de sua vida, e é dada a ela a missão de treiná-lo para atender os clientes. Porém o modo peculiar de Susan levar a vida faz de Mike se tornar seu melhor amigo ao primeiro momento; o problema é que esta amizade, na cabeça infantil de Mike, se torna paixão, justamente quando ele descobre que ela esta noiva e que as termas servem como espaço para o trabalho alternativo de Susan: ela faz sexo com a clientela masculina em troca de maiores gorjetas, sem falar que ela possui amantes em todos os cantos. A obsessão de Mike por Susan o leva a cometer várias loucuras, desde invadir um cinema erótico e seduzi-lá em frente ao seu noivo até roubar um manequim de papelão enquanto come muitos cachorros-quente à espera dela. O Ato Final do título nacional se dá pela escolha final na qual Susan é submetida, escolhendo ter toda a sua vida exposta para seu futuro marido ou fornecer a Mike a sua sonhada primeira noite de amor.



Skolimowski, ao permitir total liberdade de expressão para o seu elenco, permite pitadas exclusivas à personalidade de cada personagem: Susan é autêntica, explosiva, recheada de traços que remetem à própria Jane Asher, criando um personagem único no imaginário cinematográfico; enquanto isso, Mike é um adolescente comum, que ao conviver com um novo mundo – digamos, muito úmido – e com pessoas novas não resiste e sucumbe às tentações carnais: seus sonhos sexuais no meio do filme são apenas um reflexo do fim trágico que o próprio causa.
A sexualidade humana é explorada através de experiências naturais, é Skolimowski se mostra um mestre ao expor isso ao seu modo. E não precisou em nenhum momento de baixaria com uma torta para explicar isso!

- Robson Martins.

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