16/05/2011

Antichrist - 2009 - Lars Von Trier


O humano veio da natureza selvagem, se originando e se criando em meio as mais diversas espécies de animais, partindo para a civilização devido a sua mente desenvolvida em comparação aos outros. Para o homem moderno, a natureza selvagem pode ser a melhor forma de encontrar a paz interior – explicada por atos como a pesca ou uma simples férias acampando longe da metrópole – ou, ao menos, se livrar das preocupações mundanas do cotidiano. Mas, para Lars Von Trier, a natureza não é tão amena assim: é nela que podemos encontrar o verdadeiro eu do individuo, tão perigoso e indesejado, pois este ambiente é a real “Igreja de Satã”, intocada há eras.

“O Caos Reina” é o infeliz lema que Ele (interpretado por Willem Dafoe) descobre tardiamente ao levar Ela (Charlotte Gainsbourg, filha do cantor Serge Gainsbourg com a atriz Jane Birkin, numa performance tão perturbadora que recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes) para sua casa no meio do bosque conhecido por Éden, numa tentativa frustrada de tratar Ela após a trágica morte do filho pequeno do casal, Nic. Durante esta terapia, vamos descobrindo que Ela não é a pessoa bondosa que parece, revelando um verdadeiro demônio interno, que leva como regra de vida espalhar o caos em tudo que toca.

Aproveitando-se do cenário demoníaco e herético do filme unido a uma forte depressão, Von Trier não perdoa o público ao revezar cenas de sexo explícito com cenas de mutilação genital, mostrando que o que separa o indivíduo correto da verdadeira "encarnação do mal" é uma linha tênue. Porém, o mais ousado de Von Trier foi reconstruir o mito do paraíso (Éden) invertendo a simbologia de cada personagem: ao invés de Adão (Ele) e Eva (Ela) serem puros, os protagonistas são seres aflitos pelo pecado, sem nenhuma forma de purificar as suas almas e encontrar a “graça eterna”.

A forma no qual o filme é estruturado (um prólogo, três capítulos e um epílogo) permite que o espectador perceba como os protagonistas decaem em sua própria loucura (principalmente Ela, que se culpa pela morte de seu filho da mesma forma que acredita ser uma vingadora de muitas mulheres torturadas na Idade Média). E principalmente com o epílogo extremamente poetizado, o diretor lança um final subjetivo, onde duas interpretações são válidas: ou os personagens encontraram a sua desejada salvação ou se perderam eternamente naquela natureza maldita sem fim.

Antichrist é recheado de simbolismos, e deve-se ter mente aberta pra se apreciar esta obra-prima. Ou seja, deve-se ignorar qualquer ofensa moral e religiosa e curtir o espetáculo, mesmo que isso pareça extremamente impossível, lembrando que o exibido não passa de mais uma bela loucura do diretor, que ainda promete muito mais no mesmo estilo (Melancholia vem com tudo neste ano!).

- Robson Martins.

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