15/05/2011

Funny Games - 1997 - Michael Haneke

SPOILER! SPOILER! SPOILER!

O cinema sempre foi o local onde a fantasia e a realidade se tornam sinônimos. Vemos a todo o momento filmes nos quais seus protagonistas sofrem durante toda a história, mas no fim conseguem se superar, seja vencendo o árduo percurso da vida (vide pérolas como Precious e Pursuit of Happyness), ou um vilão doentio qualquer (o Michael Meyers de Halloween, por exemplo).

Mas, se ignorar a “realidade” cinematográfica e adotar a verdadeira “realidade” para analisar um filme, a maioria peca por sempre oferecer um final feliz, tornando este final forçado e, digamos, sem “pé-nem-cabeça”. Eis então que surge um diretor que trata de forma realista (ou, como alguns preferem, pessimista) seus protagonistas, não visando um final feliz: Esse diretor é Michael Haneke, alemão vencedor quatro vezes do festival de Cannes (a Palma de Ouro por Das Weisse Band, direção por Caché, Grande Prêmio do Júri com La Pianiste e Melhor Filme pelo Júri ecumênico por Code Inconnu) que desde seu Benny’s Vídeo (1992), mostra o ser humano no limite da loucura, mesmo quando o motivo desta loucura é desconhecido. Porém o ápice da exposição da natureza humana de Haneke ocorre no austríaco Funny Games, filmado em 1997 (e refilmado por Haneke 10 anos depois nos Estados Unidos), único filme dele nomeado no festival de Cannes que não recebeu nenhuma premiação.

Tudo começa com uma família de classe alta austríaca, composta por mãe, pai, filho e cachorro, aproveitando as férias em sua casa à beira do lago. Em seqüência, surgem dois jovens de boa aparência dizendo serem parentes do vizinho, que necessitam de ovos, pois receberam visitas “inesperadas”. A partir disso, se inicia um espetáculo de tortura psicológica, passando pouco a pouco para tortura física promovida pelos dois jovens, desencadeada supostamente por causa dos malditos ovos que “insistem em se quebrar”. Entre os joguinhos, onde os peões do tabuleiro são os elementos da família desesperada, estão “a mãe despida” ou simplesmente o “conte e atire no mais fraco”.

De forma oposta aos blockbusters hollywoodianos, não há nenhum vizinho herói que salvará a família ou algum acidente que mate os vilões (vide No Country for Old Men, dos irmãos Coen): a família inteira morrerá e, apresentado de forma icônica no último frame do filme, sabemos que o terror promovido pelos jovens só chegará ao fim depois deles torturarem vizinho por vizinho. Igual realizado por Gus van Sant em seu Elephant, Haneke expõe a realidade de maneira nua e crua, não se importando com questões morais/éticas.

Por este motivo o cinema se faz essencial para muitas sociedades: a partir dele é possível esquecer os reais fins que a realidade traz, permitindo o espectador curtir o seu “feliz para sempre” – pelo menos curtir até o momento em que seja impossível evitar a “realidade”.

- Robson Martins.

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